Precisamos de cuidar de quem cuida Estudo sobre a construção de identidades profissionais de educadoras de infância de bebés
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Resumo
Com foco na construção de identidades profissionais de educadores/as de infância (EI) de salas de berçário em contextos socioeducativos de creche, o estudo qualitativo de cariz interpretativo relatado neste artigo enquadra-se conceptualmente na teoria da construção da identidade profissional docente como constructo ecológico e na ética do cuidado como intencionalidade educativa e responsabilidade social. Os dados resultantes de 30 entrevistas semiestruturadas a EI permitem identificar três âmbitos em que se organizam os discursos das entrevistadas: “agir profissional”, “saber profissional” e “sentir profissional”. Nos discursos do “agir profissional” identificam-se três tipos de discurso identitário de referência: o “relacional”, o “técnico” e o “assistencial”. No “saber profissional” realça-se que a maioria das participantes indica percursos de formação inicial sem ação pedagógica com bebés nos planos de estudo. No “sentir profissional”, são centrais as desigualdades nas condições laborais, o cansaço, a desvalorização e a falta de reconhecimento social. Nos discursos de tipo “relacional”, a profissão que expressa-se por relacionamentos intencionalmente e eticamente cuidados, também com as famílias e outros/as profissionais. No entanto, deficiências na formação e nas condições de trabalho podem dar origem a comportamentos e discursos associados aos tipos assistencialista e técnico, mesmo em EI com uma perspetiva relacional. Conclui-se sobre a importância de promover a dimensão educativa nas salas de berçário e a necessidade de suporte formativo e de condições de trabalho que permitam a EI desenvolver o seu profissionalismo relacional.
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