Profissionalização docente e projetos em disputa na formação inicial de professores no Brasil Na complexa teia da globalização e do neoliberalismo
##plugins.themes.bootstrap3.article.main##
Resumo
Considerando a docência como profissão em constante diálogo com as demandas sociais, construiu-se uma análise crítica, apoiada em referenciais teóricos, com o objetivo de trazer ao debate acadêmico condições da profissionalização docente, na formação inicial, frente aos atuais projetos em disputa no cenário brasileiro. Nessa análise, com ancoragem na teoria do discurso, assumimos que este cenário de construções discursivas expressam as lutas pela produção de sentidos em torno da profissão docente e seu processo de profissionalização. A análise dos discursos mostrou que as políticas de currículo para a formação docente, globalmente influenciadas por fatores políticos e econômicos, acabam por engendrar currículos que visam atender as expectativas desses interesses econômicos em torno desta profissão. As reformas curriculares vivenciadas nos últimos anos no Brasil, em consonância com os contextos internacionais, apontam o caráter prescritivo, regulador e conservador que os/as reformadores/as neoliberais da educação postulam como sendo a lógica necessária a uma profissionalização docente que corresponda às demandas da reestruturação produtiva global. Neste contexto, pela via da formação inicial, a constituição profissional da docência vai subtraindo a autonomia e a intelectualidade que lhe é característica, para dar espaço a obediência e a conformação primadas nos moldes reformistas.
##plugins.themes.bootstrap3.displayStats.downloads##
##plugins.themes.bootstrap3.article.details##
Este trabalho encontra-se publicado com a Licença Internacional Creative Commons Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0.
Os/as autores/as mantêm os direitos autorais, sem restrições, e concedem à revista ESC o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Creative Commons Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional (CC BY-NC-SA). É permitido copiar, transformar e distribuir e adaptar o material em qualquer suporte ou formato, desde que com o devido reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista, as alterações sejam identificadas e seja aplicada a mesma licença ao material derivado, não podendo ser usado para fins comerciais.
Como Citar
Referências
Abbott, Andrew (1988). The system of professions: An essay on the division of expert labor. Chicago University Press.
Almeida, Lucinalva, Bezerra, Almir, & Lins, Carla (2023). Políticas curriculares no novo Ensino Médio de Pernambucano: Sentidos constituídos em disciplinas eletivas. Revista Espaço Pedagógico, 30, e14352. https://doi.org/10.5335/rep.v30i0.14352
Almeida, Lucinalva, Leite, Carlinda, & Santiago, Eliete (2013). Um olhar sobre as políticas curriculares para formação de professores no Brasil e em Portugal na transição do século XX para o XXI. Revista Lusófona de Educação, 23(23), 119-135. https://revistas.ulusofona.pt/index.php/rleducacao/article/view/3357
Amorim, Franciel, & Leite, Maria Jorge (2019). A influência do Banco Mundial na educação brasileira na educação brasileira: A definição de um ajuste injusto. Germinal: Marxismo e Educação em Debate, 11(1), 28–41. https://doi.org/10.9771/gmed.v11i1.31889
Associação Brasileira de Currículo, Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação, Associação Nacional de Política e Administração da Educação, Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação, Centro de Estudos Educação e Sociedade, Associação Nacional de Pesquisa em Financiamento da Educação, & Fórum Nacional de Diretores de Faculdades, Centros de Educação e Equivalentes das Universidades Públicas Brasileiras. (2017). Manifestação das entidades educacionais sobre a política de formação de professores anunciada pelo MEC. https://www.anped.org.br/biblioteca/item/manifestacao-das-entidades-educacionais-sobre-politica-de-formacao-de-professores
Barbosa, M. Lígia (1993). Reconstruindo as Minas e planejando as Gerais: Os engenheiros e a constituição de grupos sociais [Tese de doutorado, Universidade Estadual de Campinas]. Repositório da Produção Científica e Intelectual da Unicamp. https://doi.org/10.47749/T/UNICAMP.1993.62539
Catini, Carolina, & Branco, João (2022). Sob nova direção: Trabalho docente e privatização. Revista Eletrônica Pesquiseduca, 14(36), 961-983. https://doi.org/10.58422/repesq.2022.e1391
Cazeta, Aline (2022). Impactos da burocracia no trabalho docente no Estado de Minas Gerais sob o Governo Romeu Zema [Dissertação de mestrado, Universidade Federal de Uberlândia]. Repositório Institucional - Universidade Federal de Uberlândia. http://doi.org/10.14393/ufu.di.2023.206
Costa, Matheus F., & Mueller, Rafael (2020). Flexibilização e precarização do trabalho docente: Uma análise das condições de trabalho dos professores admitidos em caráter temporário no Magistério Público de Santa Catarina. Política & Trabalho: Revista de Ciências Sociais, 1(53), 181-197. https://doi.org/10.22478/ufpb.1517-5901.2020v1n53.52321
Dardot, Pierre, & Laval, Christian (2016). A nova razão do mundo: Ensaio sobre a sociedade neoliberal (Trad. Mariana Echalar). Boitempo.
Dubar, Claude (1997). A socialização: Construção das identidades sociais e profissionais. Porto Editora.
Dubar, Claude, & Tripier, Pierre (1988). Sociologie des professions. Armand Colin.
Farfán, Víctor, & Diniz-Pereira, Júlio (2022). Carreiras docentes, neoliberalismo e a nova gestão pública na América Latina. Revista Eletrônica Pesquiseduca, 14(36), 984-1005. https://doi.org/10.58422/repesq.2022.e1392
Fernandes, Preciosa, & Marinho, Paulo (2021). Políticas curriculares em Portugal na segunda década do Século XXI: Entre lógicas de regulação compósitas e deslocamentos da ação educativa para o coletivo da escola. Currículo sem Fronteiras, 21(3), 1539-1556. http://dx.doi.org/10.35786/1645-1384.v21.n3.29
Flores, M. Assunção (2023). Teacher education in times of crisis: Enhancing or deprofessionalising the teaching profession? European Journal of Teacher Education, 46(2), 199–202. https://doi.org/10.1080/02619768.2023.2210410
Franco, M. Amélia, & Mota, Guadalupe (2022). Do humanismo crítico ao neoliberalismo pedagógico: Caminhos de resistência. Revista Eletrônica Pesquiseduca, 14(36), 1029-1043. https://doi.org/10.58422/repesq.2022.e1394
Frangella, Rita (2020). “Muitos como um”: Políticas curriculares, justiça social, equidade, democracia e as (im)possibilidades de diferir. Educar em Revista, 36, e75647. https://doi.org/10.1590/0104-4060.75647
Frangella, Rita (2021). Ensinando por códigos: Construindo uma docência padronizadora. Currículo sem Fronteiras, 21(3), 1148-1168. http://dx.doi.org/10.35786/1645-1384.v21.n3.10
Freidson, Eliot (1998). O renascimento do profissionalismo. EDUSP.
Freidson, Eliot (2009). Profissão médica: Um estudo de sociologia do conhecimento aplicado. UNESP.
Freitas, Helena (2002). Formação de professores no Brasil: 10 anos de embate entre projetos de formação. Educação e Sociedade, 23(80), 136-167. https://doi.org/10.1590/S0101-73302002008000009
Gatti, Bernardete (2012). Formação de professores e profissionalização: Contribuições dos estudos publicados na Rbep entre 1998 e 2011. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, 93(234), 423-442. https://doi.org/10.24109/2176-6681.rbep.93i234.448
Giareta, Paulo, Ziliani, Arlete, & Silva, Ligiane (2023). A BNC-formação e a formação docente em cursos de licenciatura na universidade brasileira: A formação do professor intelectual em disputa. Revista Internacional de Educação Superior, 9. https://doi.org/10.20396/riesup.v9i00.8670364
Goulart, Débora (2023). Neoliberalismo em análise: Entrevista com Christian Laval. Revista Eletrônica de Educação, 17, e6113044. https://doi.org/10.14244/198271996113
Hypólito, Álvaro M. (2019). BNCC, agenda global e formação docente. Retratos da Escola, 13(25), 187–201. https://doi.org/10.22420/rde.v13i25.995
Ivo, Andressa, & Hypólito, Álvaro (2015). Políticas gerenciais em educação: Efeitos sobre o trabalho docente. Currículo sem Fronteiras, 15(2), 365-379.
Koepsel, Eliana, Garcia, Sandra, & Czernisz, Eliane (2020). A tríade da reforma do ensino médio brasileiro: Lei nº 13.415/2017, BNCC e DCNEM. Educação em Revista, 36(1). https://periodicos.ufmg.br/index.php/edrevista/article/view/38043
Kraft, Matthew, & Lyon, Melissa (2022). The rise and fall of the teaching profession: Prestige, interest, preparation, and satisfaction over the last half century (EdWorking Paper: 22-679). Annenberg Institute at Brown University. https://doi.org/10.26300/7b1a-vk92
Laclau, Ernesto (2000). Nuevas reflexiones sobre la revolución de nuestro tempo. Nueva Visión.
Laclau, Ernesto, & Mouffe, Chantal (1987). Hegemonía y estrategia socialista: Hacia una radicalización de la democracia. Siglo XXI.
Laclau, Ernesto, & Mouffe, Chantal (2015). Marxismo sem pedido de desculpas. In Alice C. Lopes & Daniel de Mendonça (Orgs.), A teoria do discurso de Ernesto Laclau: Ensaios críticos e entrevistas (pp. 35-72). Annablume.
Larson, Magali S. (1977). The rise of professionalism: A sociological analysis. University of California.
Laval, Christian (2019). A escola não é uma empresa: O neoliberalismo em ataque ao ensino público. (Trad. Mariana Echalar). Boitempo,
Leite, Carlinda, Fernandes, Preciosa, & Sousa-Pereira Fátima (2017). Post-Bologna policies for teacher education in Portugal: Tensions in building professional identities. Profesorado. Revista de Currículum y Formación del Profesorado, 21(1), 181-201. https://doi.org/10.30827/profesorado.v21i1.10358
Leite, Carlinda, & Sampaio, Marta (2020). Justiça social na avaliação das escolas em Portugal. Cadernos de Pesquisa, 50(177), 1-18. https://doi.org/10.1590/198053146835
Lopes, Amélia (2001). Mal-estar na docência? Visões, razões e soluções. ASA.
Lopes, Amélia (2007). A construção de identidades docentes como constructo de estrutura e dinâmica sistémicas: Argumentação e virtualidades teóricas e práticas. Profesorado. Revista de currículum y formación del profesorado, 11(3). https://revistaseug.ugr.es/index.php/profesorado/article/view/20072
Lopes, Amélia (2019). Still building a better world?: Research reflections on teacher education and identity. In Marta Kowalczuk-Walêdziak, Alicja Korzeniecka-Bondar, Wioleta Danilewicz, & Gracienne Lauwers (Eds.), Rethinking teacher education for the 21st century: Trends, challenges and new directions (pp. 27-42). Verlag Barbara Budrich. https://doi.org/10.2307/j.ctvpb3xhh.6
Lopes, Alice C. (2015). Por um currículo sem fundamentos. Linhas Críticas, 21(45), 445-466. https://doi.org/10.26512/lc.v21i45.4581
Marinho, Paulo, Leite, Carlinda, & Fernandes, Preciosa (2019). “GERM infecioso” nas culturas escolares: Possibilidades e limites da política de autonomia e flexibilização curricular em Portugal. Currículo sem Fronteiras, 19(3), 923-943. http://dx.doi.org/10.35786/1645-1384.v19.n3.07
Melo, M. Julia, Almeida, Lucinalva, & Leite, Carlinda (2022). Currículos de formação de professores: O poder de agência em questão. Educação e Pesquisa, 48, e247432. https://doi.org/10.1590/S1678-4634202248247432por
Melo, M. Julia, Almeida, Lucinalva, & Leite, Carlinda (2023). Negociação das políticas/práticas curriculares: O desenvolvimento profissional de professores(as) orientado para a decisão curricular. Educar em Revista, 39, e87031. http://dx.doi.org/10.1590/1984-0411.87031
Nóvoa, António (1999). Profissão professor. Porto Editora.
Oliveira, Dalila (2004). A reestruturação do trabalho docente: Precarização e flexibilização. Educação & Sociedade, 25(89), 1127-1144. https://doi.org/10.1590/S0101-73302004000400003
Oliveira, Maria Rita & Pacheco, José A. (Orgs.). (2013). Currículo, didática e formação de professores. Papirus.
Oliveira, Mariana (2016). “Professor, você trabalha ou só dá aula?” O fazer-se docente entre história, trabalho e precarização na SEE-SP [Tese de doutorado, Universidade Federal da Grande Dourados]. Repositório UFMS. https://repositorio.ufms.br/handle/123456789/2802
Ostermann, Fernanda, & Rezende, Flavia (2021). BNCC, Reforma do Ensino Médio e BNC-Formação: Um pacote privatista, utilitarista minimalista que precisa ser revogado. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, 38(3), 1381-1387. https://doi.org/10.5007/2175-7941.2021.e85172%20
Ostrovski, Crizieli, Sousa, Cintia, & Raitz, Tânia (2017). Expectativas com a carreira docente: Escolha e inserção profissional de estudantes de Pedagogia. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, 98(248), 31-46. http://dx.doi.org/10.24109/2176-6681.rbep.98i248.2555
Patrícia, Márcia A., & França, Rosângela (2021). A formação de professores no contexto das orientações do Banco Mundial. Educação em Foco, 26(1). https://periodicos.ufjf.br/index.php/edufoco/article/view/20071
Pavan, Ruth, & Backes, José (2016). O processo de (des)proletarização do professor da educação básica. Revista Portuguesa de Educação, 29(2), 35-58. https://doi.org/10.21814/rpe.5957
Pereira, Fátima, Lopes, Amélia, & Dotta, Leanete T. (2022). Saberes e identidades profissionais em formação de professores com mais de 50 anos em novas tecnologias digitais. Revista Portuguesa de Educação, 35(1), 449–470. https://doi.org/10.21814/rpe.22309
Perrusi, Artur (2004). Tiranias da identidade: Profissões e crise identitária entre psiquiatras [Tese de doutorado não publicada]. Universidade Federal da Paraíba.
Picoli, Bruno, Radaelli, Samuel, & Tedesco, Anderson (2023). Anti-intelectualismo, neoconservadorismo e reacionarismo no Brasil contemporâneo: O movimento escola sem partido e a perseguição aos professores. Revista da FAEEBA: Educação e Contemporaneidade, 29(58), 48-66. https://doi.org/10.21879/faeeba2358-0194.2020.v29.n58.p48-66
Poças, Sara, Lopes, Amélia, Medina, Teresa, & Santos, Júlio G. (2019). Formação de professores e projetos de cooperação internacional em Angola: Reflexões a partir de três casos de estudo. Educação, Sociedade & Culturas, 55, 149–169. https://doi.org/10.34626/esc.vi55.43
Ramos, Marise, & Frigotto, Gaudêncio (2017). “Resistir é preciso, fazer não é preciso”: As contrarreformas do ensino médio no Brasil. Cadernos de Pesquisa em Educação, 22(46), 26-47. http://dx.doi.org/10.22535/cpe.v22i46.19329
Sampaio, Marta, & Leite, Carlinda (2021). Relationships between the assessment of school quality and social justice. Educational Research, 63(1), 133-146. https://doi.org/10.1080/00131881.2020.1857654
Santos, Adriana C., & Leite, Carlinda (2018). Políticas curriculares em Portugal: Fronteiras e tensões entre prescrição, autonomia e flexibilidade. Currículo sem Fronteiras, 18(3), 836-856. https://www.curriculosemfronteiras.org/vol18iss3articles/santos-leite.html
Santos, Adriana C., & Leite, Carlinda (2020). Professor agente de decisão curricular: Uma scriptura em Portugal. Magis, Revista Internacional de Investigación en Educación, 13. https://doi.org/10.11144/Javeriana.m13.padc
Santos, João V. (2022, 11 de março). Reforma do ensino médio representa uma regressão e uma traição aos jovens e ao país. Entrevista especial com Gaudêncio Frigotto. Instituto Humitas Unisinos. https://www.ihu.unisinos.br/159-noticias/entrevistas/616742-reforma-do-ensino-medio-representa-uma-regressao-e-uma-traicao-aos-jovens-e-ao-pais-entrevista-especial-com-gaudencio-frigotto
Shiroma, Eneida (2018). Gerencialismo e formação de professores nas agendas das organizações multilaterais. Momento - Diálogos Em Educação, 27(2,), 88-106. https://doi.org/10.14295/momento.v27i2.8093
Silva Júnior, João R. & Fargoni, Everton (2020). Future-se: O ultimato na universidade estatal brasileira. Educação & Sociedade, 41, e239000. https://doi.org/10.1590/ES.239000
Stromquist, Nelly (2018). The global status of teachers and the teaching profession. Education International.
Towers, Emma, Gewirtz, Sharon, Maguire, Meg, & Neumann, Eszter (2022). A profession in crisis? Teachers’ responses to England’s high-stakes accountability reforms in secondary education. Teaching and Teacher Education, 117, 103778. https://doi.org/10.1016/j.tate.2022.103778
Weber, Silke (2003). Profissionalização docente e políticas públicas no Brasil. Educação & Sociedade, 24(85), 1125-1154. https://doi.org/10.1590/S0101-73302003000400003.