As narrativas da indústria da interculturalidade (1991-2016): Desafios para a educação e as lutas anti-racistas
##plugins.themes.bootstrap3.article.main##
Resumo
Neste artigo, argumento que foi constituído no contexto português das últimas décadas o que passo a designar por indústria da interculturalidade, que veicula um conjunto de concepções, diagnósticos e medidas relativas à diversidade que ajudam a legitimar certas intervenções políticas e perpetuam as desigualdades étnico-raciais na educação. Proponho analisar quatro narrativas do complexo discursivo “Portugal Intercultural” que considero fulcrais para compreender os debates contemporâneos sobre (multi)cultura na educação: 1) a narrativa que despolitiza o colonialismo para atestar uma vocação histórica para a interculturalidade; 2) a construção de Portugal como um país homogéneo subitamente tornado heterogéneo; 3) a sobre-ênfase do papel da imigração, projectando o país como europeu; 4) a relação causal entre mudanças demográficas e respostas políticas e institucionais, com vista à visibilização da diferença. Nesta análise, proponho que o sucesso da indústria da interculturalidade assenta no obscurecimento dos legados coloniais relativamente às construções sociopolíticas contemporâneas de raça, ilustrando os debates analisados no âmbito da educação.